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Tradição Oral em Aldeia Velha

Não há povo sem narrativas orais em sua história. Não há comunidade sem seus Mestres da Tradição Oral. Ninguém sabe quem contou a primeira vez. Cada história contada é o resultado de um processo coletivo de criação e sua origem perde-se no tempo. Como nossa memória é seletiva, não podemos pesquisar a história de um lugar apenas a partir de fontes orais. Porém, a partir do momento em que cada entrevista acontece, ela se transforma em um pedaço de um saber maior, comunitário. Temos, então, a chance de conhecer os fatos da maneira como o grupo todo os vivenciou.

 

Infelizmente, o tempo passa. Nós, pesquisadores, tentamos correr contra o tempo para conseguir os depoimentos antes que seja tarde. Além disso, as narrativas são mutantes, cada entrevistado possui sua visão individual sobre o mesmo fato. E, por experiência própria, sempre aumenta um pouquinho. Daí é que vem o ditado: "quem conta um conto, aumenta um ponto".

 

Trabalhar com as fontes orais é ter acesso às experiências dos sujeitos que fazem a história, mas que na maioria das vezes são desconhecidos, pois foram excluídos da documentação e dos arquivos. Um dos objetivos desse trabalho é permitir que a história devolva às pessoas seu próprio passado, com suas próprias palavras. É "dar significado ao passado para, ao mesmo tempo, dar sentido ao presente".

A Metodologia

 

Como trabalhar cientificamente e empiricamente - e ao mesmo tempo - com a Tradição Oral?

 

Resolvemos partir do princípio de que não conseguiríamos, de início, trabalhar com todos os mestres da tradição oral da vila. Pensando assim, chegamos à conclusão de que seria necessário fazer uma amostragem. Nosso "universo", que é o conjunto de pessoas que podem ser informantes dessa tradição oral, foi determinado por idade, pois trabalhamos com as anciãs e os anciãos locais.

 

Já a nossa "amostra" foi definida a partir de algumas características, adaptadas de Joan dei Alcàzar i Garrido (set. 1992). São elas:

a) pessoas com uma memória coerente;

b) pessoas com experiências de vida interessantes;

c) pessoas que, pelo papel relevante desenvolvido na comunidade, tornaram de importância especial o seu testemunho.

 

Com a amostra definida, partimos para a confecção de um roteiro para as entrevistas, seguindo temas de nosso interesse, mas sem abrir mão de dar liberdade aos entrevistados para falarem sobre temas de seu prórprio interesse. Optamos, portanto, por um questionário semi-estruturado, para facilitar e guiar as perguntas.

Contamos com um bom equipamento de gravação de vídeo e com um microfone de lapela integrado. Tentamos documentar o máximo de informações sobre o depoente, levando em conta sua idade para não esgotá-lo. Procuramos adotar uma atitude de diálogo, criando um clima de confiança e demonstrando o privilégio de sermos receptoras de tais experiências.

 

Levamos cerca de 3 a 5 horas de edição das entrevistas por hora de gravação. Optamos pela divisão em temas, sendo que muito pouco material deixou de ser usado. O objetivo do tratamento das entrevistas fou a informatização dos dados para que sirvam de matéria-prima para a composição do produto (site) proposto.

Por fim, mas não menos importante, foram coletadas as assinaturas de cartas de cessão de direitos de uso de cada depoimento, o que foi feito com o próprio depoente ou com os familiares, no caso de falecimento. O que, infelizmente, aconteceu com frequência, para tristeza geral da comunidade.

 

Abaixo você confere alguns desses relatos sobre o cotidiano de nossas Mestras e nossos Mestres da Tradição Oral.

Vida na Roça

O trabalho árduo na roça, de sol a sol, quase sem intervalo, não impediu que a vida simples fosse lembrada como "felicidade". Relatos de como cultivavam seu próprio alimento, o que plantavam e criavam, sobre as lavouras de café que abasteciam os bazares locais e até mesmo a indignação de alguns com as leis ambientais atuais.

Gosto de Memória

É incrível como a comida nos remete a momentos especiais de nosso passado. Através de sua sensação é possível experimentar uma verdadeira viagem no tempo.

Tropas

 

As tropas de burros serviram como meio de transporte no interior até a abertura das estradas de rodagem. Os tropeiros percorriam longos caminhos por trilhas até alcançarem seu destino: outras paragens, estações de trem e até mesmo portos distantes.

LUGARES DE MEMÓRIA

Casinhas

 

As casinhas entalhadas por seu Mário Manduca revelam não só a criatividade e a engenhosidade desse artista como a capacidade de preservar o patrimônio cultural na forma de amor e histórias. Isso é ser um Tesouro Vivo da Cultura.

Engenho da Surucucu

 

O nome original não era esse, mas assim ficou conhecido o engenho localizado na Fazenda Surucucu, local onde foram encontrados, inclusive, sítios arqueológicos históricos. Os relatos sobre seu funcionamento parecem nos trazer aos olhos imagens vivas da época.

Escambida

 

Numa época em que não havia vídeo-game, nem tampouco celular, as brincadeiras giravam em torno da diversão ao ar livre. Uma delas, a escambida, nem sempre terminava bem. Ricardo conta exatamente como era.

Histórias de Pescador

O nome original não era esse, mas assim ficou conhecido o engenho localizado na Fazenda Surucucu, local onde foram encontrados, inclusive, sítios arqueológicos históricos. Os relatos sobre seu funcionamento parecem nos trazer aos olhos imagens vivas da época.

O Enterro da Boneca

 

Nesse relato emociontante, Dona Nair relembra dos dias em que uma única boneca podeira trazer tanta felicidade e, ao mesmo tempo, uma tristeza tão profunda.

Medo da Chuva

A memória nem sempre remete à lembranças felizes. Dona Dalva mostra que as lembranças de episódios difíceis também fazem parte do que somos.

Pavermina e Colostomina

Aldeia Velha já teve duas farmácias. Em ambas, os medicamentos eram produzidos aqui mesmo, com base na homeopatia e na fitoterapia. Seu Alvino fala sobre a experiência de tomar dois medicamentos feitos pelo farmacêutico local: a pavermina e a colostomina

Polêmica e Confusão: os rios de Aldeia Velha

 

Parece que a polêmica é antiga. Ao longo dos anos, desde sua fundação, Aldeia Velha (e as antigas Aldeias de Ipuca e da Sacra Família de Ipuca) convive com a polêmica da nomenclatura “verdadeira” dos rios que banham a vila.

Causos

 

A cultura da tradição oral foi herdada dos árabes que ocuparam a península Ibérica por oito séculos e trazida até nós pelos portugueses. É comum associar a oralidade à poesia de improviso e aos violeiros. No entanto, um outro grupo sem tanta visibilidade também merece respeito: os contadores e contadoras de “causos” e de histórias, que assim devem ser reconhecidos como mestres na transmissão da cultura.

Abaixo você pode conferir alguns desses "causos", contados por alguns dos mestres da tradição oral de Aldeia Velha. 

Vida na Roça
Gosto de Memória
Tropas
Casinhas
Lugares de Memória e Tesouros Vivos
Engenho da Surucucu
Escambida
Histórias de Pescador
O Enterro da Boneca
Medo da Chuva
Pavermina e Colostomina
Os Rios
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